A exposição de pinturas “Iracema Blues”- acompanhada pela poesia do próprio artista- quer mostrar, tomando o exemplo da Ponte Metálica, (Praia de Iracema), que está caindo a cada dia um pouco mais no mar, virando um naufrágio, que o patrimônio não é somente uma coisa material, mas também imaterial que envolve todas as lembranças de cada um de nós.
Assim, um monumento pode ser o que nos lembra um bom momento, um poema, um encontro, um jardim, uma pessoa, e, de maneira geral, qualquer coisa importante em nossa existência. Essas lembranças representam uma parte do patrimônio que constitui nossa vida.
Então, quando desaparece um monumento some uma lembrança, deixando uma parte de nós vazia. Quando o monumento é público, é pior, pois muitas vidas, muitas histórias, muitas culturas são esquecidas sem que ninguém possa mais testemunhá-las.
Tem gente que pensa que um monumento pode morrer, pois um novo vai substituir o antigo e então vai ser mais bonito, mais moderno. Já é boa coisa que não seja esquecido totalmente o monumento.
Mas, na realidade, por que esperar o monumento cair, se a gente pode salvá-lo? O risco de deixar cair o monumento é de perder a lembrança dele, assim como sua alma, que nos fez amá-lo.
Nesse caso, o monumento novo é só uma novidade já ameaçada pela contemporaneidade de outra novidade, virando esquecível. Além disso, conforme com o savagismo, afirmo que a melhor expressão da modernidade acha raiz na primitividade; a arte permite fixar a memória como matéria prima.
E importante respeitar todo monumento que leva à memória do que existiu, pois é essa memória que faz o que somos hoje ou o que não somos. Sem memória não tem história nem cultura e, pior ainda, não tem mais desejo. Assim surge o “blues”, essa forma de melancolia, onde a gente se vê ainda no espelho como dentro de um passado que não quer morrer. O homem pode passar, mas o amor, o grande, permanece.
Esteban Ubretgi